Uma introdução rápida:
Nesses onze anos do Toca fitas, tive algumas pausas nas postagens regulares. Uma delas foi em 2020, quando comprei meu apartamento e ocupei a maior parte do tempo – e do meu envolvimento emocional – na reforma.
É óbvio que não comprei apartamento pra “ocupar a cabeça” na pandemia; foi uma oportunidade que apareceu como apareceu porque o mundo tava de ponta-cabeça. Ninguém tinha ideia de como tudo ficaria quando/se aquilo acabasse, e isso incluía o entorno da minha casa nova.
Com tanta incerteza, um detalhe pesou muito a favor: o prédio não tinha recuo pra rua e tinha várias lojas no térreo. Lembro que, naquela época, existiam muitos restaurantes voltados só pra entregas, num esquema meio dark kitchen.
A playlist de hoje é sobre as transformações que a rua passou de lá pra cá.
/fim da introdução, vamos de textão.
A Rua Bento Freitas fica na borda que divide “oficialmente” os bairros da Vila Buarque e República (centro de São Paulo) e já fez parte da chamada Boca do Luxo, polo de boates que “complementava” a famosa Boca do Lixo, na Luz.
A região também foi casa de boates gays pioneiras, como a Homo Sapiens (onde, desde 1997, funciona o ABC Bailão), Val Show, Val Improviso e Prohibidu’s. Mais recentemente, também abrigou Cantho, Freedom, Planet G e Danger. Ou seja, tem um histórico boêmio e de resistência LGBTQIAPN+ bem sólido.
Nos últimos anos, Vila Buarque, República e Santa Cecília passaram (e ainda passam) por muitas mudanças – gentrificação incluída. Mas a minha rua tem seguido um caminho meio próprio.
Aqueles comércios no térreo dos prédios têm visto uma multiplicação de bares e baladas voltadas para homens gays. E, com cada novo espaço, o público foi se diversificando de verdade. Tem gente de todas as idades, cores e realidades sociais convivendo – coisa rara numa cidade que adora separar todo mundo em bolhas (vide Boca do Lixo x Boca do Luxo ou mesmo Frei Caneca x Arouche, na década passada).
A seleção de hoje, primeira desse Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, é pra celebrar essa mistura e essa ocupação da cidade. E nasceu anotando as músicas que eu mais ouvia aqui em casa vindas da rua.
E o que se ouve aqui é uma música pop extremamente conhecida, justamente pra fazer pessoas de várias gerações se sentirem em casa.



