Fluoxetinianas

Montei essa playlist entre setembro e novembro do ano passado, logo depois de mexer na cara do site e anunciar que voltaria a fazer listas específicas para o Toca fitas, mas acabei nunca postando.

Olhando pra trás, tudo tem um significado diferente e parece falar sobre como, inconscientemente (ou não?), a escolha das músicas e a decisão de não postar já tinham a ver com o que eu tava vivendo.

O nome “Fluoxetinianas” é daquela época, em referência ao medicamento que me ajudava a passar por um período de ansiedade, mas também tem um quê irônico se for associado àquele estigma que algumas pessoas têm – e que eu já tive – de que medicamento psiquiátrico é uma coisa que deixa quem toma alegre de forma artificial/automática, como se fosse uma chavinha que se vira pra ficar “de bem com a vida” independentemente do que esteja acontecendo.

A descrição, da mesma época, acho mais precisa e mais profunda: trilha nostálgica-solar pra colorir a vida.

Sobre a escolha das músicas, o “Lado A” também tem algo sarcástico, com “I Wanna Be Sedated” quase no final, enquanto o “Lado B” termina num extremo oposto muito significativo pra mim: “I’m a Believer” é a primeira música não brasileira que aparece na playlist que fiz com a minha irmã pra comemorar a volta da minha mãe de uma internação.

Acho curioso e meio sintomático esse negócio de título/Lado A ter uma pegada mais dura e descrição/Lado B ter uma coisa mais íntima.

Sobre não ter postado, o óbvio. A gente descobriu complicações da doença da minha mãe em dezembro do ano passado. Começamos 2024 esperançosos tanto no sentido de acreditar em cura quanto no sentido de esperar mesmo, de deixar muita coisa em suspenso projetando celebração pra quando aquela turbulência de saúde passasse.

Pra se ter uma ideia, não postei nada aqui, mas fiz outro tipo de playlists naquele momento. Tinha comprado um tape deck e comecei a gravar fitas k-7, algumas pensando, por exemplo, em tocar num Natal ou ano-novo – faz anos que a gente passa essas festas de fim de ano em casa, alternando entre casas.

E essa playlist, apesar do título dúbio, ficou guardada pra esse momento mais leve. Infelizmente, não é nesse contexto que eu posto ela aqui agora.

De qualquer forma, acho importante postar. Esse exercício de revisitar os últimos meses com ela por aqui, que continua sendo extremamente doloroso, tem outros lados: ao mesmo tempo que faz perceber que muito do que a gente expressava na superfície como esperança tava cheio de medo em camadas mais profundas, também tem a beleza de ter ela por aqui – e ela fazia os dias mais bonitos mesmo quando não estava se sentindo bem.

E aí fica gostoso de ouvir. E me ajuda numa coisa muito difícil quando se passa pelo que a gente tá passando, que é ligar quem a gente já foi com essa vida nova que tá começando.

Em tempo: sou tão metódico que tenho feito playlist no Spotify com Lado A e Lado B respeitando a duração de cada lado de uma fita k-7. Pode parecer meio nada a ver, mas acho que isso ajuda a explicar porque me faz tão bem “elaborar” o que eu tenho sentido, tentar entender cada etapa desse processo, mesmo que precise revisitar o tema tantas vezes em conversas comigo mesmo.

Em tempo (2): se você leu esse textão todo, obrigado! 🙂

Fluoxetinianas - Lado A
Fluoxetinianas - Lado B

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