Quando me perguntam como eu tô me sentindo com relação ao luto e quero dar uma resposta simplificada, digo que o luto é uma sequência de altos e baixos. E é verdade.
Existe uma dor latente, que pode emergir a qualquer momento – e muitas vezes emerge do nada – mas, de um jeito ou de outro, a vida segue, até porque não tem outra opção. E é nesse enfrentamento da tristeza que a gente entende resiliência num sentido que não tem nada a ver com aquela bobagem que o mundo corporativo adora exaltar.
A lista de hoje é sobre essa resiliência “no bom sentido” e acabou virando praticamente uma seleção só de sambas, ainda que nem fosse a minha intenção no começo, mas acho que faz todo o sentido: o samba tem essa coisa de parecer alegre mesmo quando as letras falam dos temas mais difíceis. A exceção ao gênero talvez seja só “Somos Todos Iguais Nesta Noite”, que tinha uma ligação irresistível demais entre “Circo Marimbondo” e “Samba Dobrado” pra ficar de fora.
Uma coisa que eu quero comentar é a referência sutil ao “Álibi”, álbum de 1978 da Maria Bethânia que era um dos dois discos que a minha mãe tinha quando eu era criança. Bethânia aparece aqui com duas gravações: a primeira é “Olê, Olá”, com o Chico Buarque, que vem seguida da Alcione (no “Álibi” ela gravou, com a Alcione, “O Meu Amor”, do Chico); a segunda, “Volta Por Cima”, chega depois de outro artista que também aparece duas vezes: Djavan, compositor da faixa-título daquele álbum.
Outra faixa que ganhou um significado ainda maior nesse período de luto e que também tá aqui por isso é “Renascer das Cinzas”, do Martinho da Vila.



